sexta-feira, 26 de agosto de 2011

o fingimento oitavo

O tempo passa, vestimos os nossos coletes à prova de bala e atiramo-nos para uma guerra, onde se ganham e perdem batalhas pessoais, onde se morre o mesmo que se nasce, onde crescemos, aprendendo. Deixamos a espontaneidade de lado e pensamos que sim, é melhor jogar. Não ganhamos, também não perdemos - tiramos proveito, somos outro e temos, somente, o cuidado de não deixar que as balas nos cheguem perto da cabeça. Sobrevive-se.

adaptação

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

voz alta

silêncio. estou a divagar e a minha cabeça pesa, ando com ela de um lado para o outro, estou a pendurá-la no pescoço e fecho os olhos, coloco a cabeça para cima, já não tenho cabeça, a minha boca está ligeiramente aberta, estou a respirar, a minha expressão é estática, feita de gesso e tiro os óculos para não conseguir ler aquilo que escrevo e já não sei em que parte do meu raciocínio vou. afastei todos de mim porque queria o seu silêncio. mas ele mete-me medo, ele assusta-me, possui-me e tanto faz com que me perca, como com que me encontre. e leio todas as palavras que escrevo - aliás, mexo os lábios como que se as estivesse a ler. nada é nítido. mordo os lábios suavemente, estão secos. fujo do que encontro, mas não procuro nada, é mentira quando dizem que procuro, eu só sei encontrar, sempre fui boa nisso, é a única coisa que sei fazer, isso e silêncio, silêncio, silêncio. passei muitos silêncios à frente. sou eu, agora, que lhe mordo os lábios e o torno mudo. cabrões todos. solto o cabelo e volto a casa e no caminho perguntas se me chamo alguma coisa, digo, eu não tenho nome, soo a chão, tu vais embora. lembro-me que me esqueci de pensar e não te vi mais, gostava de saber como descobriste que és muitos. não sei respirar de cor, não sei respirar de cor. maldição.

13 Maio

o fingimento sétimo

saber ler a mente, pensar, ser. estou doente. sinto a vontade de escrever nas mãos. louca, sou louca, sem ser louca; sou puta, sem ser puta. os meus pés tocam-se, enquanto ouço um nome - o meu - e penso: em que fase da minha vida estarei? roguei muitas pragas a mim mesma e só falo de mim, porque preciso de me referir a alguém e não vou escrever sobre outros directamente. os outros são eu, somos todos. iguais, diferentes, iguais. estou com a minha imaginação a correr e fico feliz por conseguir escrever com os olhos fechados: estou deitada de barriga para cima, tenho as pernas ligeiramente abertas e estou a tocar no pescoço de alguém que está virado para mim. o cheiro. um barulho interrompe-me o sonho, a espera. novamente, sozinha. vou fingir que durmo - estou a enlouquecer com o sono e com a falta de lucidez. torno-me fiel, o meu ritmo já não é o mesmo, acalmo o peito e fecho os olhos. saberei se amanhã haverá luz em mim.

o fingimento sexto

estar inconsciente,
ser dois e querer morrer.
esperar pela sanidade, enquanto a solidão corrói.

descobri o meu problema, mas, para não mentir, corro para o silêncio - o meu lar.

domingo, 31 de julho de 2011

o fingimento quinto

em que pensei? esqueci-me. estou a rir para mim. para quem mais estaria eu a rir? se me lessem agora, teriam de o fazer a ouvir a minha voz. ela está quente e é suave, um tanto irónica, hipócrita, mascarada - é uma voz que é acompanhada por um sorriso no canto esquerdo do lábio. estou a facilitar-me o trabalho e a mostrar as minhas intenções para não as esquecer. será hoje dia de lua cheia? coço a cabeça na nuca e brinco com as unhas, enquanto espero alguma coisa para escrever. e sobre que escrevo? estou a rir-me. eu não escrevo - eu não tinha dito, já, que tinha deixado de escrever? parece-me, aqui entre nós, eu e eu, que menti. ando a enganar-me, marota. puta. as minhas unhas estão tão bonitas. as minhas mãos tornam-se elegantes quando elas estão assim. o que é a beleza, a elegância? que sensações de prazer nos provoca o que se assemelha ao belo? porquê? brinco com as unhas, novamente. já não aguento mais de tanto rir. no entanto, o meu rosto está paralisado, sério, grave. adoro a palavra "grave". continuo a rir para dentro, a ter prazer comigo. eu, que me vou ler depois, nunca mais vou esquecer isto; adoro isto, adoro a verdade: esta que não é nenhuma - este número infinito em que me divido e a que todos parecem chamar de estados de espírito, de mudanças de humor, mas que eu trato como se fossem pessoas diferentes. dou-lhes as boas-vindas, tento perceber de onde vêm e para o que vêm. não lhes quero os nomes. a sua identidade sou eu. "para onde vão?" - pergunto, por vezes. não lhes viro as costas, não lhes fujo. sento-me, ajoelho-me, masturbo-me com elas. vejo-as, em mim, de todas as formas. são todas semelhantes - querem a verdade, não a são e não vivem bem com isso, pois nunca vivem bem a fingir. só algumas. bêbedas, talvez. em dias de não pensar, talvez. o que sou eu e o que é o mundo? o que é o universo, o que é ler e o que é este computador? e para que serve mesmo a minha vida? e porquê o homem, porquê eu, porquê eu não saber quem sou? quem se está a rir de mim neste momento? eu, de mim mesma, sozinha? não, porque já não me estou a rir. a que estava aqui e se ria, acabou de se levantar e de sair de mim. a que eu fui segundos atrás também. a de agora, tem sono. a esperança é quase nula. quando se dorme, morre-se.

o fingimento quarto

O desespero utiliza a verdade para se expressar, esquece o tempo e é a forma mais verdadeira que o Homem tem para lutar pela vida, sem nunca, jamais, ter consciência disso.
O segundo nome do Desespero é Instinto de Sobrevivência.

sábado, 30 de julho de 2011

o fingimento terceiro

A solidão é um vício.
Pode destruir-nos, mas quanto mais a temos, mais o nosso corpo suplica a sua existência.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

o fingimento segundo

Eu já fui louca. Agora sou mais paciente, mais branda com o mundo. Agora não procuro a verdade - deixei de ser parva: ela não existe. Já não brilho, mas também não sou metódica.
Sou o meio-termo. Eu sou a nojenta virtude que é estar no meio, sempre em equilíbrio. Com princípios que estou sempre a rejeitar, com insultos a mim própria que fazem com que me ardam os olhos. Não consigo ficar a olhar para mim num espelho, durante muito tempo.

Já não prefiro a noite. As cores frias da noite que se torna manhã, durante a calma das ruas e o silêncio da cidade, tornaram-se o meu leito.

Sou de madrugada. De resto, só me resta fingir.

Estou a ver o Sol nascer.


Boa noite, Miguel.
Let's move on together.

O dia começa de madrugada.

Bom dia.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

chamar de Novo.

Quando tudo se começou a tornar muito Novo para mim, comecei a sentir paz no meu peito, na minha vida. O mundo ficou diferente e deixei de estar sozinha.
Fui abençoada.
Se há pessoas tão maravilhosas, como posso eu deixar de acreditar na Humanidade?


Miguel Novo, filho e braço direito.

o fingimento primeiro

fingimos ser uma caixa de fósforos.
cada um, quando o acendemos, tem uma chama diferente. dependendo do vento, arderá mais ou menos tempo, com mais ou menos vigor. por vezes, há fósforos que não se acendem à primeira, mas fazemos com que ardam.

eu ardo:
  • pela vida
  • pelo pensamento
  • por música
  • por mãos
  • por literatura
  • por cinema
  • pela noite
não há fósforos equilibrados dentro de mim - tudo é louco, tudo é insano, tudo é irregular.



o filme e a música de hoje.

eu não sinto senão dores de garganta

fico feliz por sentir alguma coisa.

não há mar que seja de regresso
que me faça querer partir
para depois voltar
nunca somos os mesmos
mas tentamos imitar-nos todos os dias
pobres tristes solitários
nascemos enlatados
o que me traz aqui hoje
nunca é o mesmo motivo de ontem
e se motivos são razões
que mais não é a razão que a desculpa do pensar
por falar em desculpa desculpe-me
sou porco e dou tiros para o ar
tento matar pombos
e eles cagam-me em cima

não sei mais viver mas a minha propaganda é boa