domingo, 31 de julho de 2011

o fingimento quinto

em que pensei? esqueci-me. estou a rir para mim. para quem mais estaria eu a rir? se me lessem agora, teriam de o fazer a ouvir a minha voz. ela está quente e é suave, um tanto irónica, hipócrita, mascarada - é uma voz que é acompanhada por um sorriso no canto esquerdo do lábio. estou a facilitar-me o trabalho e a mostrar as minhas intenções para não as esquecer. será hoje dia de lua cheia? coço a cabeça na nuca e brinco com as unhas, enquanto espero alguma coisa para escrever. e sobre que escrevo? estou a rir-me. eu não escrevo - eu não tinha dito, já, que tinha deixado de escrever? parece-me, aqui entre nós, eu e eu, que menti. ando a enganar-me, marota. puta. as minhas unhas estão tão bonitas. as minhas mãos tornam-se elegantes quando elas estão assim. o que é a beleza, a elegância? que sensações de prazer nos provoca o que se assemelha ao belo? porquê? brinco com as unhas, novamente. já não aguento mais de tanto rir. no entanto, o meu rosto está paralisado, sério, grave. adoro a palavra "grave". continuo a rir para dentro, a ter prazer comigo. eu, que me vou ler depois, nunca mais vou esquecer isto; adoro isto, adoro a verdade: esta que não é nenhuma - este número infinito em que me divido e a que todos parecem chamar de estados de espírito, de mudanças de humor, mas que eu trato como se fossem pessoas diferentes. dou-lhes as boas-vindas, tento perceber de onde vêm e para o que vêm. não lhes quero os nomes. a sua identidade sou eu. "para onde vão?" - pergunto, por vezes. não lhes viro as costas, não lhes fujo. sento-me, ajoelho-me, masturbo-me com elas. vejo-as, em mim, de todas as formas. são todas semelhantes - querem a verdade, não a são e não vivem bem com isso, pois nunca vivem bem a fingir. só algumas. bêbedas, talvez. em dias de não pensar, talvez. o que sou eu e o que é o mundo? o que é o universo, o que é ler e o que é este computador? e para que serve mesmo a minha vida? e porquê o homem, porquê eu, porquê eu não saber quem sou? quem se está a rir de mim neste momento? eu, de mim mesma, sozinha? não, porque já não me estou a rir. a que estava aqui e se ria, acabou de se levantar e de sair de mim. a que eu fui segundos atrás também. a de agora, tem sono. a esperança é quase nula. quando se dorme, morre-se.

1 comentário:

  1. Junta mais uma à tua voz, porque estou aqui. Vou estar sempre cá.
    Os meus olhos pedem-me para dormir e esforço-me para poder estar cá.

    ResponderEliminar